Autor : Wander Piroli
Ilustrações : Odilon Moraes
Editora : Leitura 2008
Naquele tempo, havia muitos quintais e lotes vagos, como em todos os bairros.
Cada menino trazia sempre o seu bodoque no bolso e um punhado de munição: umas pedras. quando aparecia a oportunidade, fazia pontaria e alguns pardais, iam desistir de viver.
Todos eram bons de bodoque, todos , menos eu. Por mais que caprichasse na pontaria, eu não conseguia acertar nada.
Às vezes o pardal, nem saia do lugar, tinha a impressão que me gozava, na certeza que não corria nenhum risco.
Os companheiros debochavam, riam da minha cara.
Eu com raiva descontava no futebol, distribuía chutes para todos os lados, mas o que eu queria mesmo era matar um pardal.
Muitas vezes, ficava no fundo do quintal, sozinho, treinando. Colocava uma caixa de fósforos numa forquilha e mirava bem e errava o alvo.
Foi assim até que um dia, eu estava no fundo do quintal sem o meu bodoque, até que um pardal apareceu na quina da coberta.
Era um pardal como os outros.
Fingi que ia arremessar alguma coisa contra ele, e o pardal nem se mexeu do lugar.
Busquei o meu bodoque e voltei para o quintal.
O pardal ,continuava lá, sem se mexer.
Tranquilo e indiferente.
Escolhi uma pedra fiz pontaria, e só vi quando o pardal rolou coberta abaixo e caiu do outro lado, onde tinha um terreno vago.
Saí correndo para rua, ver ser meus amigos estavam por lá, eu queria que todos vissem, mas não havia ninguém.
Fui até o lote vago, procurar o pardal morto, enfiei a mão no mato, mas aí houve um problema:
- O pardal estava vivo.
Sem saber o que fazer, lancei-o de encontro ao muro.
Mas na afobação, ele me escapuliu da mão e ficou piando no chão, no meio do mato.
E não piou mais.
Aliás, piou sim.
E continua piando dentro de mim até hoje.
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