Bem Vindos

terça-feira, 3 de abril de 2012

HELENA KOLODY

                      CARACTERÍSTICAS DE SUA CRIAÇÃO POÉTICA
  
Segundo Nicolás Hec, seu biógrafo e tradutor para o ucraniano, o conteúdo principal das poesias de Helena Kolody é de "tranquilas reflexões sobre a época contemporânea, conforme sua visão, cheia de controvérsias, perturbações, incertezas e violência, e na qual o progresso tecnológico se contrapõe à miséria e morte de fome de milhões. Para reformar a vida e construir um mundo melhor, a autora - sendo cristã e mestra - propõe como pedra fundamental para reflexão o amor a Deus e a reeducação. Característica de seu estilo são a ausência de temas banais, de metáforas gastas ou analogias repetidas. A crítica literária ressalva que em cada volume novo a poeta supera-se com profundeza e síntese das ideias, transmitidas com palavras simples, lapidares."         (Luz Infinita, pág. 21)
Fonte: Rede Escola
Escola Estadual Telmo Octávio Muller- EF 

Os pais de Helena Kolody eram ucranianos. Conheceram-se e se casaram no Brasil. A primeira filha do casal, Helena, nasceu no dia 12 de outubro de 1912. Fez o curso primário em Rio Negro – PR e, em seguida, mudou-se para Curitiba, onde ficou por dois anos. Voltou a residir em Mafra/Rio Negro, onde estudou piano, pintura e escreveu seus primeiros versos aos 12 anos.
Seu primeiro poema publicado intitulava-se "A Lágrima". Ela estava, então, com 16 anos. Nesse início de carreira, a maior divulgadora da obra de Helena Kolody foi a revista "Marinha", de Paranaguá. Com 20 anos de idade, Helena iniciou a carreira de professora.

Trabalhou em diversos colégios. Só no atual Instituto de Educação, de Curitiba, lecionou por 23 anos. Exerceu apaixonadamente a profissão do magistério, a qual foi muito importante para sua formação e para a qual a Escola Nova (movimento eclético e de origens muito complexas) de certa forma colaborou para seu pioneirismo e arrojo e contribuiu na renovação dos conceitos e das normas educacionais.
"Paisagem Interior", seu primeiro livro, foi dedicado ao pai, Miguel Kolody. Porém, ele não pôde vê-lo, pois faleceu dois meses antes de a obra ser publicada, no ano de 1941. Na seqüência, são publicados: "Música Submersa", "A Sombra do Rio", "Vida Breve", "Era Espacial" e "Trilha Sonora", "Tempo", "Correnteza", "Infinito Presente", "Sempre Palavra", "Poesia Mínima", "Viagem no Espelho", "Ontem Agora", "Reika".
Para ela, o amor ficou sendo só um sentimento, um sonho, e Helena Kolody soube muito bem transformar esses sentimentos em palavras melodiosas, o que levou alguns poemas seus a serem musicados. São versos carregados de um lirismo puro, que embalam reminiscências de amores de outrora (até mesmo a própria palavra tornou-se antiga) quando não era vergonhosa a expressão verdadeira dos sentimentos, como vemos no poema Cântico de 1941: A luz do teu olhar é a estrela solitária / Da noite deste amor, que é feito de silêncio.
Helena Kolody não participou do Movimento Modernista por ser retraída, mas buscava sempre manter-se informada e tinha consciência da modernidade de seus versos. Nessa época, o Movimento Modernista buscava uma superação dos pressupostos que ancoraram a Semana de Arte Moderna. Alguns poetas já tinham trilhado um caminho diferente dos versos parnasianos, restando, pois, amadurecer as idéias já plantadas.
Em seu livro Música Submersa (1945), figura o haikai "Pereira em flor", o qual foi elogiado por Carlos Drummond de Andrade, que diz ter ficado feliz com poemas como esse, "em que à expressão mais simples e discreta se alia uma fina intuição dos ‘imponderável’ poéticos". Eis o poema: De grinalda branca, / Toda vestida de luar, / A pereira sonha.
O haicai é uma forma de poesia japonesa, pequeno poema de três versos, com cinco, sete, e cinco sílabas poéticas sucessivamente. Com sua escrita icônica, os haikais japoneses têm sua origem no canto, faziam parte de diários de viagem, numa interação prosa/poesia e eram desenhados em um quadro, fazendo parte de um todo plástico.
A concentração verbal dos haicais consegue o máximo efeito estético numa linguagem sintética. Mas foi em 1941que Helena havia publicado seus primeiros haicais, sendo criticada com os argumentos de que aquilo não era soneto, não tinha rima, não era poesia. Mas gostava de desafios, por isso fazia haicais, mesmo criticada.

TANKAS E HAICAIS: UMA LEITURA DE REIKA, DE HELENA KOLODY
Antonio Donizeti da Cruz
Unioeste - Doutorado - Ufrgs - Capes-Picd 
Em Música submersa (1945), obra seguinte, percebe-se alguns poemas sintéticos, entre eles o haicai Pereira em flor (Viagem no espelho), elogiado por Carlos Drummond de Andrade, que diz ter encontrado com alegria poemas como esse, "em que à expressão mais simples e discreta se alia uma
fina intuição dos ‘imponderável' poéticos" (In: Rumo paranaense, 1970: 4). Leia-se o poema:
De grinalda branca,
Toda vestida de luar,
A pereira sonha (p.189).

No poema ocorre uma personificação da pereira. As imagens são singulares. A flor da pereira é símbolo do caráter efêmero da existência. A respeito desse haicai, Helena relata de que forma surgiu o poema: 
Eu morava na Rua Carlos de Carvalho. Uma noite, ao sair da casa  de uma amiga, dei com aquela pereira completamente florescida, banhada pela luz da lua cheia. A beleza do quadro foi um impacto na minha sensibilidade. Fiz o poema bem mais tarde.
Associei a pereira com uma noiva: a noiva toda vestida de branco, sonhando, como a pereira ao luar (1986: 22).
Em 13 de junho de 1993, a comunidade nipo-brasileira de Curitiba, em comemoração aos 300 anos de Curitiba e aos 85 anos de imigração japonesa, homenageia a poeta Helena Kolody com a outorga do nome haicaísta REIKA, em reconhecimento à dedicação, divulgação e grandiosidade que deu à poesia de origem japonesa: o haicai.
Reika (nome poético, ou nome de haicaísta), composto por dois ideogramas específicos, Rei e Ka, pode ser traduzido como "Perfume da literatura", ou "Renomada fragrância de poesia", ou ainda, "Aroma da poeta maior". 
(Poemas retirados de Viagem no Espelho, de Helena Kolody.)
RESSONÂNCIA
Bate breve o gongo.
Na amplidão do templo ecoa
o som lento e longo.
FLECHA DE SOL
A flecha de sol
pinta estrelas na vidraça.
Despede-se o dia.
NOITE
Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.
SAUDADES
Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades.
REPUXO ILUMINADO
Em líquidos caules,
irisadas flores d'água
cintilam ao sol.
DEPOIS
Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora.
ALQUIMIA
Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras
com novo matiz.
JORNADA
Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.
SEMPRE MADRUGADA
Para quem viaja ao encontro do sol,
é sempre madrugada.
RETRATO ANTIGO (1988)
Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?
VOZ DA NOITE (1986)
O sol se apaga.
De mansinho,
a sombra cresce.
A voz da noite
diz, baixinho:
esquece... esquece...
A MIRAGEM NO CAMINHO (1978)
Perdeu-se em nada,
caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.
(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho).
DOM
Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.

POESIA MÍNIMA
Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

Fonte: mundo vestibular.com.br

                                 DEPOIMENTO DE HELENA KOLODY

Nasci no dia 12 de outubro de 1912, no núcleo colonial de Cruz Machado, em pleno sertão paranaense. Eram 8 horas da manhã de um dia de sol e geada.
     Meus pais eram ucranianos, que se conheceram e casaram no Paraná. Eu sou a primogênita e a 1ª. brasileira de minha família.
     Miguel Kolody, meu pai, nasceu na parte da Ucrânia chamada Galícia Oriental, em 1881. Tendo perdido o pai na grande epidemia de cólera que assolou a Ucrânia em 1893, Miguel, no ano seguinte, emigrou para o Brasil com a mãe e os irmãos.
     Mamãe, cujo nome de solteira era Victoria Szandrowska, também nasceu na Galícia Oriental, em 1892. Veio para o Brasil em 1911.
     Vovô radicou-se em Cruz Machado, onde papai trabalhava. “Seu” Miguel conheceu a jovem Victoria e apaixonou-se por ela. Casaram-se em janeiro de 1912.
     Estava escrito o primeiro capítulo da minha história.” 
Fonte : Falasaoacaso.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário